Empadologia
(do Guia do Estado)
Talvez tenha a ver com a eleição de um operário para presidente. Talvez seja conseqüência do upgrade que os botecos tiveram nos últimos dez anos. Quem sabe, ainda, a causa seja a queda dos juros ou o Bolsa Família. Sei lá. O que importa é que, para minha felicidade, a empada está na moda.
Ela deixou aquele canto engordurado do balcão da padaria, ao lado de torresmos e ovos azuis, para cair na vida: está tanto nos lugares da moda, como o Sabiá – novo bar da Vila Madalena, onde saem em fornadas e são trazidas às mesas ainda fumegantes, nas mãos do simpaticíssimo Luis – quanto nas cadeias de fast-food. Só aqui no bairro tem duas: o Rancho da Empada e a Empada Brasil, que entregam em casa um produto de excelente qualidade. Eu fico feliz, não só porque gosto dessa mini-granada de colesterol, mas porque intuo que ela traga oculta, em meio aos camarões, algo além da bem-vinda azeitona.
Com a queda do muro de Berlim, a democracia liberal e a Colgate se espalharam pelos quatro cantos do mundo (a Colgate com muito mais eficiência, evidentemente) e falou-se bastante no fim das identidades locais. Como se, com a abertura dos mercados, tudo aquilo que fazia de nós, brasileiros, estivesse fadado ao desaparecimento, ou, quem sabe, condenado a reduzir-se a um novo sanduíche do McDonald’s – McSamba?
Oswald de Andrade, num poema chamado Erro de português, diz: “Quando o português chegou/ Debaixo de uma bruta chuva/ Vestiu o índio/ Que pena!/ Fosse uma manhã de sol/ O índio tinha despido o português”.
Sei que anda um pouco fora de moda acreditar em Antropofagia. Aliás, anda fora de moda acreditar em qualquer coisa, nesse mundo colgático-democrático, mas talvez a empada -- que até outro dia também era démodé – seja um raio de sol na manhã oswaldiana. Quem sabe, num possível futuro dominado pelos BRICs (Brasil, Russia, Índia e China), ela será encontrada nos quatro cantos do mundo, quase se desfazendo à cada mordida, encantando a todos com sua poderosa delicadeza?
(Talvez eu tenha me empolgado e recheado o texto com mais significados do que o tema pode comportar, caro leitor. Não peço desculpas. A crônica, como uma boa empada, é assim mesmo: um pequeno exagero).
Talvez tenha a ver com a eleição de um operário para presidente. Talvez seja conseqüência do upgrade que os botecos tiveram nos últimos dez anos. Quem sabe, ainda, a causa seja a queda dos juros ou o Bolsa Família. Sei lá. O que importa é que, para minha felicidade, a empada está na moda.
Ela deixou aquele canto engordurado do balcão da padaria, ao lado de torresmos e ovos azuis, para cair na vida: está tanto nos lugares da moda, como o Sabiá – novo bar da Vila Madalena, onde saem em fornadas e são trazidas às mesas ainda fumegantes, nas mãos do simpaticíssimo Luis – quanto nas cadeias de fast-food. Só aqui no bairro tem duas: o Rancho da Empada e a Empada Brasil, que entregam em casa um produto de excelente qualidade. Eu fico feliz, não só porque gosto dessa mini-granada de colesterol, mas porque intuo que ela traga oculta, em meio aos camarões, algo além da bem-vinda azeitona.
Com a queda do muro de Berlim, a democracia liberal e a Colgate se espalharam pelos quatro cantos do mundo (a Colgate com muito mais eficiência, evidentemente) e falou-se bastante no fim das identidades locais. Como se, com a abertura dos mercados, tudo aquilo que fazia de nós, brasileiros, estivesse fadado ao desaparecimento, ou, quem sabe, condenado a reduzir-se a um novo sanduíche do McDonald’s – McSamba?
Oswald de Andrade, num poema chamado Erro de português, diz: “Quando o português chegou/ Debaixo de uma bruta chuva/ Vestiu o índio/ Que pena!/ Fosse uma manhã de sol/ O índio tinha despido o português”.
Sei que anda um pouco fora de moda acreditar em Antropofagia. Aliás, anda fora de moda acreditar em qualquer coisa, nesse mundo colgático-democrático, mas talvez a empada -- que até outro dia também era démodé – seja um raio de sol na manhã oswaldiana. Quem sabe, num possível futuro dominado pelos BRICs (Brasil, Russia, Índia e China), ela será encontrada nos quatro cantos do mundo, quase se desfazendo à cada mordida, encantando a todos com sua poderosa delicadeza?
(Talvez eu tenha me empolgado e recheado o texto com mais significados do que o tema pode comportar, caro leitor. Não peço desculpas. A crônica, como uma boa empada, é assim mesmo: um pequeno exagero).
44 Comments:
gostei muito dessa crônica, e coincidência, já fiz uma cujo tema era esse mesmo poema, Erro de Português.
:*
eba, primeiro comentário :]
Muito boa a crônica, como sempre!
Aqui no Rio as empadas também estão na moda, a Casa da Empada nunca fez tanto sucesso!
Beijos!
Eu e meu pai temos o nosso "Guia da Empada do ABC", toda vez que descobrimos algum lugar que tenha uma empada de palmito (só de palmito) boa, lá vamos nós atrás.
Não pense na empada como uma minigranada de colesterol, ela é assada e segundo os nutricionistas assado é saudavel XD
A crônica está ótima, como sempre. Aqui em Brasília a onda das empadas ainda está bem no começo, só conheço a Empada Brasil. Espero que um dia a empada se torne algo mundial, tipo McDonalds.
Bjos.
Aqui, na longíqua São Luís do Maranhão tem a Toca da Empada, bastante ótima! :D
Que lindo a crônica, poetisando o dia-a-dia. Da empada à antropofagia.
Hummmmm... me deu vontade comer empada!!!
Adorooo!!! Às vezes no intervalo da minha aula como uma!!
A empada é o melhor dos salgados que existe no mundo!
Tambemm gosto muito de empada, mas prefiro a de frango. Que bom que semana que vem as aulas começão, assim vou poder comer empada do barzinho ao lado da facul, lá elas ainda ficam no canto engordurado do balcão, mas são deliciosas...
Cada vez melhor, cara. Muito boa mesmo a crônica.
Abraços do
André.
amooo a sua coluna na revista caprichoo ♥
mas a da edição 01035 vcê foi demaiis !
amoo teus textos !!
beijoos ;@
Lindo texto.
Deu uma vontade incontrolável de comer empadinha=**
A empada voltou à moda?!
hum..que bom, adoro empada:)
e ameii a crônica,como sempre leve,divertida e recheada de contéudo como uma boa empada!
beijocas!
empada de camarão é quase tão bom quanto sexo. claro, dependendo de qual seja a companhia para ambos.
Prata, sempre bom te ler.
SINOPSE INACABADA
Ainda bem que eu não sigo a moda. Empada é boa, mas pra comer em casa, quietinha. Ela gruda nos dentes, o que não é nada chique :}
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muito bom texto!
adorei a parte "a democracia liberal e a Colgate se espalharam pelos quatro cantos do mundo (a Colgate com muito mais eficiência, evidentemente)"
mas cara, empada igual a de Uberaba (terra natal do seu pai e da minha mãe) não tem.
tem uma empadona, enorme, que vendem num lugar chamado Gosto de Festa, que é uma delícia.
ou até a empada do Balbec! hmm que saudades de lá...
ah, te deixei um recado no orkut, mas não sei se é você mesmo ou se é fake... então reproduzo aqui:
adoro todos os seus textos... tô esperando mais livros teus; eu não fiquei sabendo de mais nenhum. tou sedenta por um Estive Pensando II (sinto falta das suas crônicas da Capricho, porque não compro mais a revista e fico limitada a algumas que minhas amigas compram) ou até por um livro diretamente de Shangai né?
ah, saiba que você é a solução pra todas as minhas amigas que dizem: "não gosto de ler". na hora que soltam essa terrível frase, eu desafio:
- vou te emprestar um livro super gostoso, curtinho, fácil, engraçado e inteligente. agora tem uma coisa: você estará fadada a mudar um grande hábito na sua vida: dizer que não gosta de ler. aceita o desafio?
elas se sentem instigadas, eu empresto o Estive Pensando, e é sempre tiro e queda. :)
beijo.
não sei se anda com frquência na paulista ...mas encontrei uma pessoa muito parecida com você lá ...e fiquei pensando , é ou não é? rs .
sempre li os textos do seu pai e você é demaisss também!!!
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Antônio!
pra variar, uma ótima crônica!
deu até saudade de comer uma boa e velha empada de palmito. Aliás, bom saber que elas tão na moda, acho que não vai ser muito difícil encontrá-las por aí :)
e vamos torcer pra que, como vc disse, nós que já fomos tão "vestidos" com Mc Donalds e afins possamos "despir" os grandões com empadas!
beijo e continua escrevendo! sempre passo por aqui e adoro as suas crônicas.
ah empadas...tomara que a próxima chiquezação seja do churrasco grego- morro de vergonha de pedir um em meio a tanto tiozão olhando eu comer. Vou dispensar os elogios, pois são infinitos.
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E o que eh tudo na vida senão um delicado exagero?
beijo!
Questionamento, um tanto quanto tangente ao texto, mas enfim: Antigamente, muito se falava em BRICS. Agora só se fala em BRICs. É impressão minha ou o S de "South Africa" foi transformado num minúsculo indicativo de plural?
o/
Aqui perto, na estrada pra Itacaré tem uma casa da Empada...lá tem as melhores empadas que já comi na vida!!!
Antonio, se vier à Itacaré não deixe de passar lá...vc vai se deliciar...
Adoro suas crônicas...
Também adoro empadas.
Aqui em Minas empada sempre foi moda...
Beijos.
o QUE POSSO DIZER PRA VC?
NADA. VC DIZ POR SI PRÓPRIO...VAI VER POR ISSO O ADMIRO TANTO!
BEIJÃO ANTÔNIO!
AQUI EM SÃO CAETANO DO SUL, VOCÊ E AS EMPADAS SÃO MUITO BEM VINDAS E MUITO BEM ACEITAS ;)
Eu tenho pensado bastante nisso. Contra toda e qualquer tendência de globalização, o Brasil em alguns aspectos vai se tornando cada vez mais autêntico. Que bom.
Aqui em Londres tem as mesmas lojas que eu encontrei em Paris, em Barcelona, em Milão. As mesmas redes de fast-food. A mesma moda. E eu que só queria descobrir o que tinha de típico de cada lugar.
Mas no Brasil não, no Brasil tá cheio de coisa que só tem no Brasil, empada, brigadeiro, samba, pandeiro, suor, bagunça, pastel, garapa. Que bom. Deve ser esse o tal do ciclo, quem sabe daqui a vinte anos não vai ser a gente que vai substituir os Mac Donald's espalhados pelo mundo pela grande rede Rancho da Empada?
Putz! Esqueci de falar da PAMONHA!!
empada é tudibão!
mesmo que venha recheada de colesterol!
;D
Antonio!!!!!!
Inacreditável ler essa sua crônica hoje. Há alguns dias eu e minha melhor amiga comentávamos sobre o "boom" da empada na cidade onde moramos (Belo Horizonte). Incrível como de uma hora para outro se proliferaram Casas da Empada, Empórios da Empada, Pontos da Empada. Eu adoro, mas como sou muito fã de coxinha (é, eu sou fã de coxinha)fico um pouco enciumada que a empada é que esteja bombando.
Bom, se um dia vc vier a Belo Horizonte, recomendo a lojinha de empadas do Mercado Central, tá? Maravilhosa!!!
Beijos!
Ah, esqueci de dizer: não foi a primeira vez que falamos sobre algum assunto para, pouco tempo depois, ler um texto seu com o mesmo tema. Por isso, e pela qualidade indiscutível dos seus escritos, nós o elegemos como nosso "cronista-símbolo"...rs.
genial!
acho que se alguém te pedir pra fazer um texto sobre o botijão de gás, sai algo inacreditável. que inveja! =D
crônica deliciosa!
:*
HUASHAUSHUAHS
Te amo! xD
Perfeito, como sempre.
=***
Minha mãe que tá grávida já teve desejo de comer empada e me levou pro Empada Brasil. Agora quem fica com desejo de comer empada sou eu! xD
Ah! Já faz algum tempo que eu te vi na TNT. Eu fiquei pulando no sofá gritando "olha o Antonio Prata! Ele escreve muito bem! OLHA OLHA!!!!"
aushuahsuahsuahs
como você pode ver sou sua fã. Beijos
Pelo visto a sua empada é a minha coxinha de catupiry!!
Depois me faça uma visitinha: http://sohardt.blogspot.com
:-)
essa me lembra um pouco da crônica "Flavonóides", excelente...
vamo trabalha... o ano ja começou, o carnaval já acabou faz tempo!!
ah, a crônica é legal :D
ué, onde foi parar o post de ontem sobre o Fidel?
era curtinho, mas não precisava ser deletado :/
ai ai Antônio rsrs....
Fiquei um tanto confusa com a tua crônica. Não é ótimo?!!
Bom, eu não sou assim tão fã de empadas, mas, de qualquer maneira, ainda acho que seria bem mais legal comer uma na padaria da esquina, com uma receita caseira bem antiga que uma congelada que foi aquecida em um BrEmpad's lá no Marrocos.
Mas, a cultura é algo que não importa muito nesses tempos de globalização, não é verdade?
Oi,parabens pelo texto!
Eu sempre mantive um pe atraz com relacao a textos e atitudes nacionalistas, mas quando se fala de empada... Agente so pode mesmo e encher boca de ... agua... (rs)!
Sao tres anos morando na Italia! Tres anos disputando empadas e coxinhas a tapas em festas organizadas por brasileiros! Alias, empadas, coxinhas e brigadeiros, sao excelentes motivos para reunir uma comunidade tao desunida quanto esta dos brasukas na Italia! kkk
Parabens!
Um livro interessante, que relata fatos da adolescência, e coisas super interessantes.Muito bom!
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