Bicicletai!
Um dias desses, evidentemente, tudo há de dar certo, os automóveis se extinguirão e a superfície da terra será povoada apenas por bicicletas. Alguns carros, ônibus e caminhões serão expostos nos museus, feito mamutes, guilhotinas e outros monstros findos, para divertir a criançada e alertar os adultos: que o horror jamais se repita. Sobre selins acolchoados, seremos felizes para sempre.
É inegável a simpatia das bicicletas. Máquina desengonçada: se parada, destrambelha-se como um albatroz em terra, mas ao impulso dos pedais, projeta-se como uma flecha, esguia, impoluta e silenciosa. Bicicletas, ninguém pode negar, são irmãs dos guarda-chuvas, primas das girafas e parentes distantes dos abacaxis (não me peça para explicar, foi uma idéia que tive agora).
Durante todo o século XX, muitos artistas aproveitaram-se de seus encantos. É pedalando que vemos quase todo o tempo monsieur Hulot, personagem do filme Meu Tio, utopia lírica de Jacques Tati. Marceu Duchamp, depois haver exposto um mictório no museu, enfiou uma roda de bicicleta num banco de madeira e deixou as velhas noções sobre arte – literalmente – de pernas pro ar.
É impensável um facínora de bicicleta, inconcebível um ditador pedalando. As “máquinas da paz”, como as chamou Vinícius de Moraes, em sua Balada das meninas de bicicleta, são muito mais afeitas aos suaves cuidados das moças: “Bicicletai, meninada!/ Aos ventos do Arpoador/ Solta a flâmula agitada/Das cabeleiras em flor”.
As bicicletas são um indício de civilização. Recomendadas por ecologistas, urbanistas, cardiologistas e artistas, têm logo de entrar na agenda política. Ainda não vi nenhum candidato expor, no horário eleitoral, seu projeto nacional de bicicletização. Se aparecer algum, ganhará de imediato meu apoio.
Se Deus voltasse à terra e dissesse, “me mostrem aí o que vocês fizeram”, teríamos de levá-lo imediatamente a Amsterdam, para um passeio ciclístico, em torno daqueles belíssimos canais. Ou então ao Rio de Janeiro. Pegaríamos Deus no Santos Dummont (vindo do céu, é de se supor que chegará de avião) e O colocaríamos na garupa. Cruzaríamos todo o aterro, pedalando sem pressa, sob o sol ameno das quatro e meia da tarde. Passaríamos pela estátua de Drummond em Copacabana, veríamos as garotas saírem do mar em Ipanema e terminaríamos o passeio no Leblon, com um mergulho no mar e um suco de melancia, no exato momento do sol se pôr. Se Deus tiver um pingo de sensibilidade, estaremos todos salvos.
É inegável a simpatia das bicicletas. Máquina desengonçada: se parada, destrambelha-se como um albatroz em terra, mas ao impulso dos pedais, projeta-se como uma flecha, esguia, impoluta e silenciosa. Bicicletas, ninguém pode negar, são irmãs dos guarda-chuvas, primas das girafas e parentes distantes dos abacaxis (não me peça para explicar, foi uma idéia que tive agora).
Durante todo o século XX, muitos artistas aproveitaram-se de seus encantos. É pedalando que vemos quase todo o tempo monsieur Hulot, personagem do filme Meu Tio, utopia lírica de Jacques Tati. Marceu Duchamp, depois haver exposto um mictório no museu, enfiou uma roda de bicicleta num banco de madeira e deixou as velhas noções sobre arte – literalmente – de pernas pro ar.
É impensável um facínora de bicicleta, inconcebível um ditador pedalando. As “máquinas da paz”, como as chamou Vinícius de Moraes, em sua Balada das meninas de bicicleta, são muito mais afeitas aos suaves cuidados das moças: “Bicicletai, meninada!/ Aos ventos do Arpoador/ Solta a flâmula agitada/Das cabeleiras em flor”.
As bicicletas são um indício de civilização. Recomendadas por ecologistas, urbanistas, cardiologistas e artistas, têm logo de entrar na agenda política. Ainda não vi nenhum candidato expor, no horário eleitoral, seu projeto nacional de bicicletização. Se aparecer algum, ganhará de imediato meu apoio.
Se Deus voltasse à terra e dissesse, “me mostrem aí o que vocês fizeram”, teríamos de levá-lo imediatamente a Amsterdam, para um passeio ciclístico, em torno daqueles belíssimos canais. Ou então ao Rio de Janeiro. Pegaríamos Deus no Santos Dummont (vindo do céu, é de se supor que chegará de avião) e O colocaríamos na garupa. Cruzaríamos todo o aterro, pedalando sem pressa, sob o sol ameno das quatro e meia da tarde. Passaríamos pela estátua de Drummond em Copacabana, veríamos as garotas saírem do mar em Ipanema e terminaríamos o passeio no Leblon, com um mergulho no mar e um suco de melancia, no exato momento do sol se pôr. Se Deus tiver um pingo de sensibilidade, estaremos todos salvos.
30 Comments:
É sua culpa minha paixão pela leitura...principalmente por crônicas...
e fico aqui me perguntando qual é a ligação da bicicleta com o abacaxi???? =)
Aliás, Antonio, por que tantos textos numa tacada só?
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Muito bom, aliás excelente, simplesmente adorei, é daqueles que te faz imaginar cada detalhe do que se passa, parabéns, passarei mais vezes aqui pra espiar seus textos, por sinal, os que já li, são ótimos! (:
Isso me fez lembrar de quando ia até o estágio, num aquário de frente para o mar, de bicicleta...Que saudades desse tempo...(Como se fizesse muito...rs)
beijo!
deu vontade de comprar uma...
mas tenho mede de ser devorado pelos dinossauros
Bonito, mas Amsterdã tem mais lixo no chão que Copacabana depois do reveillon. Deus ia tapar o nariz.
"são irmãs dos guarda-chuvas, primas das girafas" eu nunca pensaria nisso sozinha, mas consigui entender completamente
só trocaria os abacaxis por cerejas, que são muito mais simpáticas!
Já coloquei nos afazeres domésticos de amanhã: Tirar toda poeira existente da bike, olhar se precisa de algo mais, além de uma bela limpeza. Estou com esperança!
E se algum futuro candidato entrar defendendo a inclusão das bikes, tem o meu apoio tbm! :)
Que astral isso aqui. Adorei! :)
Anotado o link!
:)
Beijos
Sou totalmente a favor das bicicletas e das cidades planas como Amsterdã!
eu também me sinto mal por me achar superior a esse povo feliz demais, sabe?mas isso não me impede me continuar achando. beijo! quinta tô aí.
veri.
escrevi duas vezes o ME. ME ME ME ME. egocêntrica.
Antonio Prata?
Mas Antonio Prata de "Do Amor", "Das coisas que não existem", "você já viu uma soja?", "Peter Pan era um idiota" e "Pra que servem as cuecas"???!!!
aaaahhhh!!!
Que maaaassaaa!!
Até hoje ainda tenho uns papos doidos sobre soja e pombos que se reproduzem por meiose uahuahuahuahua foram quase lemas de vida!
Desculpe, não consigo controlar meu lado tiete ehehe
Bom, se não for, descondidere o comentário acima e fique só com este aqui:
Bicicletalização pela salvação!!
uahuahuahauauhaua
Só sei que te acompanho a uns bons mil anos pela capricho...
E que bom que descobri o seu blog!
Não ando lendo capricho com tanta frequencia assim,devo confessar.
adorei.
Bom texto.Mas eu não sei andar de bicicleta.
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Quando eu era criança e rezava todas as noites antes de dormir, eu sempre imaginava Deus como algo parecido com uma massa de ar ou uma nuvem, gigante e sem forma, que tomava conta de tudo - sabe-se lá como - lá de cima. Hoje eu nem sei responder se acredito nele. Mas foi legal imaginá-lo andando de bicicleta :)
adorei, acho super válido as bicicletas pra todo mundo. fora elas no máximo o metrô, pq ninguém iria cruzar são paulo inteira de bicicleta e levar umas 4 horas. na cidade que eu moro, uma boa parcela da população usa bicicleta, inclusive eu. bom pras pernas e pro meio ambiente, haha.
abraço, ótimo blog.
ah, num gosto de bicicleta naum...
mas gostei da sua descrição feita à elas...
deu uma beleza encatadora...
mas a minha vai continuar de enfeite aki, na varanda...
srrsrs
Caro Antonio Prata,
ficaria grata se você não postasse tantos textos de uma só vez, pois fico confusa por não saber onde parei da última vez que entrei em seu blog.
Muito obrigada,
Ana Luiza.
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O que você gosta de beber quando vai na STARBUCKS?? não consegui descobrir ontem. :)
um dia tudo será feliz...
infelizmente, não haverá mais seres humanos quando esse dia chegar...
Pedalar sem calcinha então, que delícia.
Delícia de texto.
Se a bicicleta não fosse roubada no meio do passeio...
"Se Deus voltasse à terra e dissesse, “me mostrem aí o que vocês fizeram”, teríamos de levá-lo imediatamente a Amsterdam, para um passeio ciclístico, em torno daqueles belíssimos canais"
e torcer para que nenhuma jovem de 13 anos seminua e drogada esteja na sarjeta. pq isso é o que também temos feito.
eu sinto falta da minha bicicleta.
pedi uma ao papai noel esse ano.
moro em bologna, na italia... e posso dizer que talvez aqui seja o segundo lugar pra trazer Deus (ou como badalos quiserem chamar...). Serà que ele ficaria confuso pois aqui o chamam de Dio? :)
bons textos. um bicicletada pra voce.
Meu sonho de consumo!
não você...digo, o mundo, as bicicletas.
sério!
Pode ser até careta pra uma menina de 13 anos ficar lendo cronicas, mais as suas são tao interessantes e voce parece q tem o dom de escolher palavras adequada, que possam se espressar de uma forma bem clara e ''suave'', q chega da gosto de ler. ADMIRO BASTANTE SEUS TRABALHOS
Parbéns de verdade...
AHHH,sobre os ABACAXIS, super estralhoss(idéia maluca, essa sua), até que se formos ver bem pode ter uma minima interligação com as bicicletas... srrsrsrsrsr...
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