Na foto
Ontem fui subir numa torre enorme que tem em Pudong, para ver a cidade lá de cima. Na base da torre, passei atrás de um chinês que posava para uma foto e clic, percebi que tinha ido parar dentro da câmera de seu amigo. Fiquei com uma sensação estranha e imediatamente me solidarizei com esse pessoal que não se deixa fotografar porque diz que a câmera rouba a alma.
Fiquei imaginando minha imagem ali, transformada em megapixels, no bolso do chinês. Milhares ou milhões de zeros e uns colocados lado a lado que formam meu nariz, minha orelha, meus olhos, a perna direita levantada, a perna esquerda apoiada... Aí fiquei me imaginando indo no bolso do chinês para uma cidadezinha perdida no interior da China. A família do cara olhando a foto, me vendo ali atrás -- o gringo no fundo da foto --, figurante desconhecido, ignorado, sem nenhuma importância. E vai que o cara imprime a foto, vou ficar guardado no fundo de uma gaveta numa cidadezinha no interior da China, amarelando (foto digital também amarela?), até o dia, quem sabe, que ele faça uma limpeza, ou morra, e os filhos joguem a foto no lixo, e eu, o chinês que posava e o maior prédio de Xangai vamos parar num forno, ou num aterro. Cruz credo.
Depois de subir na torre fui a um museu que contava a história da cidade, mas não prestei atenção em muita coisa: só conseguia reparar nas pessoas das fotos antigas, para sempre presas ali dentro, com seus cachimbos, cartolas, bigodes e almas amarelando diante da visitação pública. Todos mortos, que nem eu, um dia, na foto do chinês.
Fiquei imaginando minha imagem ali, transformada em megapixels, no bolso do chinês. Milhares ou milhões de zeros e uns colocados lado a lado que formam meu nariz, minha orelha, meus olhos, a perna direita levantada, a perna esquerda apoiada... Aí fiquei me imaginando indo no bolso do chinês para uma cidadezinha perdida no interior da China. A família do cara olhando a foto, me vendo ali atrás -- o gringo no fundo da foto --, figurante desconhecido, ignorado, sem nenhuma importância. E vai que o cara imprime a foto, vou ficar guardado no fundo de uma gaveta numa cidadezinha no interior da China, amarelando (foto digital também amarela?), até o dia, quem sabe, que ele faça uma limpeza, ou morra, e os filhos joguem a foto no lixo, e eu, o chinês que posava e o maior prédio de Xangai vamos parar num forno, ou num aterro. Cruz credo.
Depois de subir na torre fui a um museu que contava a história da cidade, mas não prestei atenção em muita coisa: só conseguia reparar nas pessoas das fotos antigas, para sempre presas ali dentro, com seus cachimbos, cartolas, bigodes e almas amarelando diante da visitação pública. Todos mortos, que nem eu, um dia, na foto do chinês.
0 Comments:
Post a Comment
Subscribe to Post Comments [Atom]
<< Home