amores expresos, blog do ANTÔNIO

Friday, April 27, 2007

Contrapeso

Deito e durmo, exausto, antes da meia-noite. Nunca foi tão fácil pegar no sono. Desde que cheguei, acho, sonho com a casa da mi-nha infância. Às vezes ela tem a mobília do meu apartamento atual, às vezes está fechada há muitos anos e eu dou uma volta pelos cô-modos, lembrando de cada coisa. É um pouco triste, eu percebo que aquilo não me pertence mais, sinto que estou num lugar que acabou, mas é intenso e talvez bom. Também tenho visto rostos doces de mulheres que amei em tempos idos – true love, Helen e Shirley, I know. Só o rosto, o sorriso, essa capacidade que a mulher amada tem de ninar nossas angústias. (Ê, Edipão brabo!). É o pessoal das coxias dando uma força, calçando a mesa bamba do estrangeiro com algo de familiar.
-- Atenção atenção, inconsciente?, Superego falando, copia?
-- Inconsciente na escuta, QAP.
--Negócio é o seguinte, o cara tá na China, perdidaço, vê aí no baú imagens from the heart que que tem de bom pra gente dar uma base pro garoto, QSL?
-- Positivo. Gol do Corinthians? Sonho erótico? Vôo?
-- Negativo, precisa pegar pesado, fala pros estagiários irem nas pastas Infância e Amor e fazerem uma pesquisa boa.
-- Positivo. Uma e meia tá aí.
-- Negativo, o cara tá dormindo cedo, onze e meia tem que tá aqui senão vai começar o REM e a gente vai ter que passar material antigo. E se só tiver a fita “Pelado na escola” vai dar uma desestabili-zada legal.
-- Onze e meia fica difícil, Super, tem muito material recalcado e cê sabe como é que é a burocracia pra liberar.
-- Diz que eu mandei passar, traz aqui que eu carimbo.
--Beleza. Câmbio.
-- Câmbio.
Eu estou na China nas melhores condições possíveis, não que-ria estar agora em nenhum outro lugar da Terra, mas ser estrangeiro traz sempre alguma dor. Não falo daquele medinho de fazer as espe-radas cagadas inevitáveis, como entrar pela porta errada do ônibus, meter o cartão do metrô de cabeça pra baixo, embolar o pessoal na catraca e levar um esporro em mandarim. Falo dessa tristeza de es-tar longe de todo mundo que a gente ama, das pessoas que sabem que a gente é. (Nos poucos momentos em que estou no hotel fico o-lhando os bonequinhos vermelhos do messenger e torcendo para que algum fique verde, mas com 11 horas de fuso, só dá desencon-tro).
Lembro que quando era mais novo não entendia alguém ser condenado ao ostracismo. Achava que me sairia numa boa. Talvez porque quando a gente é mais novo ainda não percebeu que a única coisa que importa são as pessoas que a gente ama. E o trabalho, claro, mas trabalho a gente faz em qualquer lugar. Até na China, en-quanto nenhum fucking bonequinho mudar de cor.
(Imagina só que terríveis os sonhos dos exilados com a Terra natal?).

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