TEM CHÁ?
Nos primeiros dias eu subia em prédios e olhava a cidade lá do alto. E ia a museus e lia sobre a história do país. Agora ando por ruazinhas e fotografo paredes, torneiras, tampas de garrafa jogadas num canto. Olho a cidade agachado, procurando-a num ladrilho.
Nos primeiros dias eu buscava um argumento para o romance como quem olha a cidade de cima. Queria vê-lo todo, na minha frente, lá embaixo. Agora já sei que não é assim. Sentado aqui, nesse paraíso que encontrei por acaso, a “Sala de leitura da antiga mão da China” (o que quer que isso signifique), com o lap top no colo e uma chaleira infinita de chá à minha frente, descrevo uma coisa de cada vez, a torneira da rua, o bilhete para uma namorada na infância, um possível cenário para casamento visto duas ruas abaixo, um gato que arranha canos num beco e pode entrar na história, de algum jeito.
A cidade está aí, inteira, mas foi feita prédio à prédio, ladrilho por ladrilho e é feita ainda, pelas tampas que caem nos cantos, pelos gatos que imprimem seus grafites vitais pelos canos, modificando a micro topografia de suas superfícies. Pouco a pouco. Uma coisa de cada vez. Nunca entendi direito desses assuntos, voraz e ansioso que sou.
Eu me pareço com essa cidade, querendo escrever um romance com a mesma velocidade com que eles ergueram o Pudong. Devagar, eu digo a mim mesmo. E tomo chá, pela primeira vez na vida. A pronúncia de “espera um pouco”, em chinês, é “tem chá”, acreditam?
Nos primeiros dias eu buscava um argumento para o romance como quem olha a cidade de cima. Queria vê-lo todo, na minha frente, lá embaixo. Agora já sei que não é assim. Sentado aqui, nesse paraíso que encontrei por acaso, a “Sala de leitura da antiga mão da China” (o que quer que isso signifique), com o lap top no colo e uma chaleira infinita de chá à minha frente, descrevo uma coisa de cada vez, a torneira da rua, o bilhete para uma namorada na infância, um possível cenário para casamento visto duas ruas abaixo, um gato que arranha canos num beco e pode entrar na história, de algum jeito.
A cidade está aí, inteira, mas foi feita prédio à prédio, ladrilho por ladrilho e é feita ainda, pelas tampas que caem nos cantos, pelos gatos que imprimem seus grafites vitais pelos canos, modificando a micro topografia de suas superfícies. Pouco a pouco. Uma coisa de cada vez. Nunca entendi direito desses assuntos, voraz e ansioso que sou.
Eu me pareço com essa cidade, querendo escrever um romance com a mesma velocidade com que eles ergueram o Pudong. Devagar, eu digo a mim mesmo. E tomo chá, pela primeira vez na vida. A pronúncia de “espera um pouco”, em chinês, é “tem chá”, acreditam?
3 Comments:
Textos incríveis, adorei passar por aqui.
Aliás, difícil encontrar informações sobre você, né?
Fico feliz que você tenha conhecido a lama e encontrado a tua história (ou seria estória, ou istória mesmo?!). Tá lindo de qualquer forma. Um beijo.
chatagirl, vc dará o ar de sua graça uma hora dessas? é importante pro livro,sabe?
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