amores expresos, blog do ANTÔNIO

Sunday, May 13, 2007

SHANGHAI TOP STARS

Onze gatos pingados (agora literalmente pingados, por causa da chuva) e um bumbo. São a incrível torcida de Brancaleone do Shanghai Top Stars. Dessem noventa minutos a Eduardo Coutinho em meio a eles e Edifício Master virava obra de juventude.
Onze pessoas e um bumbo são um acontecimento digno de nota sobre a face da Terra. Se pudéssemos fazer um ranking de todas as possíveis aglutinações entre seres humanos e coisas, tipo: seis pessoas e uma fogueira, dois homens e uma arma, dois casais e uma garrafa, dezessete adolescentes e um violão, um homem e uma caneta, eu poria onze pessoas e um bumbo lá no topo. Sou uma pessoa razoavelmente romântica e otimista (seria pleonasmo?), acredito que onze pessoas e um bumbo, se movidas por amor à causa (seja ela qual for) e algumas cervejas (idem) podem mudar o mundo: derrubar presidentes, terminar casamentos, incendiar um prédio, virar carros, vencer eleições, forjar amor verdadeiro ou, quem sabe, apenas cantar a Jardineira às três e meia da manhã e fazer com que a Dona Elzira do 512 acorde o síndico – o que não deixa de ser uma forma, sutil, mas ainda assim, uma forma, de mudar o mundo.
-- Eles são os caras! Vamos lá, ali que é a torcida roots!
Até que, nesse ponto, eu e o Sandro tínhamos a mesma visão estética.
-- Mas lá tá chovendo, Sandro.
-- Foda-se, torcedor é sofredor, brother! Shangahi Top Stars é garra, é Botafogo! Vamo lá, eles com o bumbo, nós com pandeiro e essa bagaça aqui de gelar cerveja, brother, tem pra ninguém, é nós!
-- Onde é que cê vai achar uma tomada pra ligar isso aí? Vai dizer que cê tem uma extensão na mochila?
Eu só queria ganhar tempo. Eu não queria, definitivamente, ir sentar-me na chuva, por mais que admirasse, esteticamente, a Incrível Torcida de Bracaleone. Eu sabia que, pelos códigos Sandrinos de sociabilidade, era inadmissível que nos sentássemos separados. Na sua moral cavalheiresca, “A gente tá junto nessa, brother!” estava entre as regras mais importantes. Mais ainda, eu sabia que, se ele realmente quisesse sentar-se lá, na chuva, na torcida roots, ia mover mundos e fundos para me convencer e o que parecia ser uma bucólica tarde de futebol no interior seria um exercício de retórica de 90 minutos contra o Sandro e a chuva.
-- Cê acha que os caras não têm uma tomada ali embaixo?
-- No campo, Sandro? Tipo, do lado da bandeira do escanteio, assim?
--Sei lá brother, qualquer coisa a gente faz um gato aí, liga na bateria do desfibrilador e já é. Cê acha que os caras não têm desfibrilador?
Eu amo o Brasil. Isso é absolutamente fantástico. Eu perguntei onde ele ia ligar o negócio de gelar cerveja e ele imediatamente pensou em desmontar um hipotético desfibrilador para conectar em sua geladeirinha elétrica para ficar do lado da torcida roots -- na chuva. Sandro, definitivamente, é um gênio. Leonardo da Vinci. O que faz com que Da Vinci faça o renascimento e o Brasil esteja como está são os objetivos. Não sei muito sobre o gênio italiano, mas imagino que a sua grande preocupação não fosse exatamente como gelar a cerveja para sentar do lado dos supostos botafoguenses orientais. Já a do brasileiro, pelo menos esse chamado Sandro do Nascimento, invariavelmente, é. Se a gente conseguisse desviar esse potencial da arquibancada oposta e colocar, sei lá, na educação, meu caro Sandro, não tinha pra ninguém. Era nós.
Se eu não consigo comunicar à concierge do meu hotel um simples endereço, imagino como seria o Sandro, ao lado do campo, mostrando a espada Jedi de gelar cerveja ao médico, as latas de Skol, apontando o desfibrilador e dizendo “xiê xiê, make a cat, beer, pinda! Ok?”.
Richard Clayderman calou-se nos alto falantes e, depois de um breve ruído, entrou a voz de uma mulher, falando umas coisas monótonas.
-- É a escalação, escritor!
Sandro pôs a boca no cornetão, com a provável intenção de assoprá-la quando ouvíssemos os nomes do Emerson ou do Ricardo. Ficamos eu e ele ali, naquela expectativa, mas nada. Mais uma vez, a migalha da China: eles disseram Emerson, disseram Ricardo e nós, mesmo atentos, sequer desconfiamos que os dois nomes tenham sido pronunciados.

2 Comments:

Blogger Jane Malaquias said...

Um homem querendo acasalar e um sistema de som podem fazer um grande estrago tb.

May 16, 2007 at 12:20 PM  
Blogger Breno Fernandes said...

Jimi Hendrix e uma guitarra.

May 18, 2007 at 9:15 AM  

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